segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

À janela (VISION) Esforço 5

Na redação do jornal não tem ar condicionado. Tem é uma janela que dá para uma encosta de morro por onde entra ar fresco. Vê-se o Corcovado,o Redentor.
Fico à janela. Olho para fora, depois de escrever. Sentado, deixo os braços sobre as coxas e a coluna menos tensa, não longe de um presente de eterno. A possibilidade de olhar protetora é criação a deixar-me crer num tempo maior, por luz que parecem estar envolvidos nossos esforços. Nossos esforços.Parecem crer, e muito, em força, de possibilidades maiores. O Cristo Redentor sente a cidade com sua cabeça e sem nos ver.
Largo-me um pouco de tempos que ninguém diz "duros", tanta liberdade física enfim mas que extenuam. Mas me sinto bem quando os esforços respiram. E à luz aqui, da janela, sinto na vaguidão uma amiga da realidade.
É. Impressiona-me, desde criança quando me vi adulto, e me vi adulto pensando no mundo, tudo poder ser tão aberto. Desde ao descobrir, nas teclas de uma máquina de escrever, poder sentir as palavras se baterem num papel, letra por letra e formarem um sentido num branco luminoso que vai parar em mãos. E hoje, observo, calado, aos impactos, pouco a pouco, desperto como uma folha. E abro e fecho os olhos.SInto tanto medo de ser atingido
Sinto isso. Verdade.
Como se ao olhar as coisas, às pessoas eu pensasse algo que existisse e ainda não existe que é vago mas no meio de uma realidade. Uma palavra dita,ou não. Uma oportunidade em aberto. Esforços. E isso me deixa nervoso, não sabemos quantos impactos e os modos como os sofremos.
Impressiono-me como as folhas ficam cheias de impactos e meus olhos de uma forma tansformadora pudessem se enamorar de estarem parados. Como quando vemos uma imagem de arte e não só, e diretamente, de consumo ágil, funcional de qualquer coisa, não importa. Uma arte recebe, é impacto de impactos de seus meios. E um sofrimento e uma alegria de estar se elaborando, e elaborada parecer contemplar um sempre consigo. Ser consigo e generosamente.
Estava imediatamente ali não pensando bem no dia a dia, ou em arte somente. Nem em palavras, mas mudamente pensando neste rapaz e nesta moça que acabei de escrever sobre o que estavam fazendo.
O João, o diretor do jornal, mandara que os cobrisse, por indicação de um amigo jornalista que conhecia aos dois "performers", e disse com um ar de quem cita algo, e não leva muita fé, que fariam uma "perfomance" por aqui, pelo bairro. Que eu escrevesse.É uma palavra nova e aqui não é a Broadway, comentou indo beber água.
Fui na hora e perto do centro do comércio os vi. Se vestem com calções velhos amarrados na cintura por um cordão branco ( ela com uma camisa de manga curta, ele não) e andam no meio de todo mundo e falam coisas com sotaque nordestino, sério. Coisas de casal. Põem um dedo na cara do outro, andam, olham para trás. Até marcharam como soldados hoje de manhã. Depois bateram em suas próprias bundas.
Mais do que parecerem à população só loucos, quando faziam o número da estátua viva, à gente que parava, perguntando se era propaganda eles falam que precisavam de dinheiro para fazerem teatro, não entendiam? parecia que tinham era coragem! Aí escrevi que as pessoas se surpreendem. E que ele criam meio a um esforço que causa um impacto e por uma idéia maior. Foi aqui perto.
Fechei a matéria, perguntando o que diriam ao público quando chegassem lá? Sim, terminava assim, porque têm corpos e fôlego artístico admirável! Mesmo misterioso acontecimento, para tanta gente que passava sua ação era clara. E insinuei a pergunta, ao final do texto: se não seriam, futuramente, manchetes dos cadernos culturais?
Depois dali, conversamos num bar, bebemos uma cerveja e eles, mesmo mais para calados do que falantes, responderam ao que eu perguntava. Principalmente se com o tempo pensavam fazer a mesma coisa ou outra atividade? A partir daí é que me fizeram a pergunta se eu topava escrever para eles.
Bem, estou nessa, né. Eles acharam a matéria diferente. É. Deve ter sido a fé que pus neles. E a esperança, em tempos de insanidades muito rápidas.
Ontem o telefone tocou, já era bem de madrugada. Perguntaram se podiam dormir lá onde moro. Disse que sim, claro, mas que quase não aguentaria esperar eles, estava dormindo muito mesmo e estava largado, nem tinha tirado a roupa. Tinha tido uma festa. Tonho disse então se eu estava com alguém. Nâo era o caso. Se eu pudesse deixar a chave escondida na porta, mesmo porque ninguém a essa hora iria ver...porque se fosse para casa seria muito difícil para ele estar tão cedo no teatro O MAis da Vida. Eu tentava ser autêntico no meu sono, nem me lembrei de sentar no sofá. Falava tão baixo.
Falei que estava bem. Ouvi o barulho do telefone público se desligar e fiquei, meio absorto, a ouvir aquele sinal de desligado. Procurei onde estava a chave, tinha me esquecido da calça. Nâo acendi a luz da sala e abri a porta. No corredor, o silêncio. Coloquei encostada à porta e deitei de novo, sentindo que a chuva voltava a cair e que a madrugada era alta. Onde estavam?
Eu não tinha bebido, acordo com um tímido sol no rosto e fui à sala. Tinha tirado as calças. Ele dormia no chão. Achei estranho que não estivesse junto dela. Nâo deve ter dado no sofá. Não acordaram. Preparo uma pequena mesa. Mexi num, mexi noutro. Nâo falei nada nem pensei em outra coisa.
Moles se levantaram e ofereci cadeira para cada um. Os fiz sentar e nos pusemos a tomar café. Que pena, disse, que não tem um pão quentinho. Tonho ri, e Tônia me olha. Seus olhos sempre me impressionam. Claros e muito pintados. Suas mãos são cheias de anéis.
Respirei fundo,olhando para as minhas soltei mesmo uma baixo ái ái. Nâo tinha texto, nada para hoje e absolutamente não estava afim de qualquer contato com tecnologias de imagens ou entrevistas de rua.
Confessei isso, sinceramente. Já extenuado de tanto força que fazia para achar que tudo era preocupação e que isso era uma felicidade. Até me lembrar de contar para eles do prêmio! Ah ficaram felizes. Acariciaram meu braço e aí parei e sorri para mim, contente de escrever, ter algo. Isso emociona Tonho.
Tônia logo se pôs de pé e disse que eu nunca tinha falado nada de minhas atividades na internet e que queria ver e agora! Nunca a tinha visto rir. Ou mandando, mesmo brincando. A não ser imperiosamente calada.
O céu começava a ficar aquele azul esbranquiçado. Minha janela é quieta. Contei para eles do cara que gritou de madrugada e como eu tinha dançado ontem à noite. Ela logo disse que queria ler. Como se chamava o blog? Ele, de pé, leu alto o nome e se virou para mim, meio solene, calado. O sentido contemporâneo, e clássico quase me veio nesta hora o fitando de pé numa firmeza diria quase não real. Como pode? Indagava, sem palavras numa realidade que se suspendia. As nuvens supondo o mundo. A minha janela para a rua é quieta.
Depois, ela se sentou frente ao monitor: "Quem tem medo dos olhos de Leilane Neubarth".Leu. AS mãos se apertando. Sua voz cristalina. Tonho e Tônia e minhas mãos no queixo, ansioso porque de verbal mesmo, Semi-Esforço até agora não tinha nada!

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