segunda-feira, 26 de maio de 2008

ABERTURA DO MINI-ESPETÀCULO JÀ TEM FOTOS NO PROG

A perna mais para frente de Tonho, a outra mais recuada. Suas grandes costas, braços estirados, abertos e que , em momentos, caem ao longo do corpo. Em outros, Tonho volta a ficar de pés juntos. Isso tem uma música?
Publiquei a fotografia dos pés nús de Tonho no meu blog, O PROG. É no PROG, no rascunho, melhor dizendo, que esboço cenas para aqui. PAra o mini-espetáculo. Fotos do Zito Fontes que demorou...
Preciso lembrar do dia, à saída do teatro, depois de um ensaio. Tonho voltava da escada da entrada do teatro e aperta minha mão silenciosamente até a Neyde, mãos balançando o molho de chaves passar dizendo " vamos, pessoal, vamos pessoal".
A sensação íntima que esse cumprimento me trouxe quase me deixa indiferente a todo o barulho da rua.
E à atenção planar-espacial da garota pós-revolucionária atual de sempre voltar para mim, no fundo do palco, seus ouvidos e nariz pequeno ( fotografado, e também presente na luminosidade do PROG), perfil desenhado pela luz de Marcello, sei que mudo, jornal na mão dobrado e pulsos a vibrar ouvi Tonho, como uma legenda de uma foto, dizer em alto e bom som o nome do espetáculo. Jogo o jornal longe.Rio.
-SEMI-ESFORÇO : VISION, macacada !
Luz do Marcello aumenta ( olhe as lentes de seus óculos). E Tônia junto à entoação do nome começa o movimento ondulante de seus braços e dedos. Pálpebras pintadas de sombra azul cintila intensamente à tarde ao mesmo tempo que Tonho concentra-se num pulo qual Toshiro Mifune em Os Sete Samurais que ele viu uma vez lá em casa.
5 horas da tarde. Anoitecerá. Nós iremos a um bar.É. No mesmo bar onde outra tarde comentava uma reportagem do durável Fantástico sobre trabalho escravo e a ela, cotovelos apoiados à mesa, veio, num silêncio só interrompido pelas expressões e explosões locais, este título : SEMi-ESFORÇO: VISION! Tonho, braços cruzados no peito, fez certo sinal de concordância.

UM PALAVRÃO, PELO AMOR DE DEUS, DILERMANDO !

É de madrugada que digito cenas para SEMI-ESFORÇO: VISION no rascunho do blog que mantenho, O PROG. E é de manhã que vou para a redação do jornal de bairro onde escrevo umas crônicas, dou umas notas.
Estamos" passando o texto" , no teatro, de esquete em que Tônia e Tonho falam sobre um velho homem cansado que corre ao mesmo tempo que faz sinal para o ônibus.
Ao " passar o esquete" que começa com Tonho lendo PENUMATÓRAX, uma poesia de Manuel Bandeira, Tônia levantou.
" Como a velocidade está entranhada... e, olha ( neste momento encarará a platéia para logo voltar seu olhar para Tonho), olha, nós estamos bem seguros na nossa juventude quando imaginamos que um senhor corre tanto, tendo em sua vida tanto andado! Dilermando- volta-se para mim- dê alguns palavrões para Tonho !"-
- Podem fazer parte do espetáculo parecer absolutamentee comum e, assim, comunicamos raiva cidadã com poética. Tonho cruza os braços no peito. "palavrões são um grande prato quando se pensa grande, e desabafa-se "."
Dilermando pede para Tonho continuar, e diz para ela garimpar um maiô inteiro, de vedete tradicional, para usar na hora em que Tonho aparecer de pés nus durante outra poesia.
-Entendo- e acende um cigarro séria naquela hora com ponteiros e números nos pulsos de todos. Tonho anda pela platéia e Neyde à frente num trenzinho daquela leitura dançante e crítica.

PRA COMEÇO DE CONVERSA. TÔNIA EM PEQUENA ENTREVISTA NO PROG

Tônia está abrindo o espertáculo com roupa sadô- masô . Balança os braços como uma borboleta e de óculos escuros presos à testa. São performers de rua, gente culta de mass-media, como de rua mesmo, e através de leituras, janelas de ônibus e novelas, humorísticos...
Tõnia chega a ter Os Sertões, tendo passado por Charles Dickens, Nelson Rodrigues e lido Clarice Lispector como também assiste a Duas Caras. Vê programação televisiva das tardes.
-Tônia, você com toda esta informação e contato com produtos, obras, enfim, você não se assume como elite, sem que corra o perigo de ser desconsiderada pela mídia, já que não és uma mulher famosa ?
- Dilermando, eu tenho o nome de uma mulher ícone mas que poderia ser de uma dupla sertaneja texana. Isso não é engraçado? Olha, da confusão às vezes pode sair direção. Sou uma Buarque de Holanda, por parte de mãe e há tanto tempo que raízes do Brasil virou copa, galho... e, falo que para mim High Culture ou Fashion são quase a mesma coisa ( ela ri).
- O PROG é uma tentativa minha de fazer jornalismo de qualquer coisa e para mim você parece ser uma mulher-artista no duro. Mas você " se acha" na vida cotidiana?
-Exatamente, mas para efeito de concentração me sinto como uma doméstica, uma faxineira, até uma prostituta.
Começamos. Quando conversamos, descontraidos, falamos com distanciamento e atenção para com a realidade. Flagrá-la em frases, pegar-lhe uma alma num roteiro de fragmentos saturados, espontâneos, é uma tarefa. Sou jornalista. Aqui minha principal função é a" construção textual"como Tônia diz. Semi-Esforço : VIsion é título sugerido por ela numa noite em que falamos de trabalho escravo mostrado num programa de longa data, o FANTÁSTICO e penso no silêncio (somos assistidos pela faxineira, a Neyde, que está atrás das poltronas da platéia). Silêncio diferente na sala de espera onde Zito, Zito Fontes, chega, atrasado.