segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Festa e Cama

respondo.Depois descemos as escadas amplas do Teatro O Mais da Vida.Quando saimos silenciosos do teatro olhamos para o cartaz um pouco acima da altura das árvores naquela calçada.
Pensei quando nossos nomes estivessem no cartaz, em Semi-Esforço.
Ando com as mãos nos bolsos meio a muitas roupas do mundo e fico meio afastado porque estou de pau duro, acho que eles notam e comentam que as calças são feitas para isso mesmo e riem. Olho para Tonho e me orgulho de estar assim, então e com tanto barulho que se faz na rua, gostei de ouvir suas vozes baixas e não ligo mais.
Andamos juntos e o sonoplasta e o iluminador passam à nossa frente e acenam como dizendo que estávamos no mesmo barco e saíamos para tomar um sorvete, refrescar a cabeça. O sonoplasta tem cabeça pequena. O iluminador, pernas grossas.
A iluminação pública começa a ser acessa e as árvores parecem mais escuras a esta hora porém.
Bombas estouram nos morros próximos e jornais parecem estarem de acordo. Crianças, moleques não vão ficar nunca idosos. Qualquer pessoa, se perguntada, faz doce, se assusta mas dá opinião. È que ele pára ,ás vezes, e faz perguntas!
Não acredito!Opinião! Estou de um jeito ...
Tonho ouve bem à vontade a prosa. Pesquisa de campo porque amanhã poderíamos compor o esquete sobre as tecnologias avançadas de imagens no dia a dia. É. Quero um texto para ele,Tonho, mas não sei.É como se não soubesse de nada, às vezes, mesmo. Só o espanto.
Tonia anda calada à margem do trãnsito desenfreado. Barulhento. Violento. Sem abrir a boca, interrompeu tudo. Eles quase não falam, mas aprendo que suas atitudes lhes são vitais.
Ela pega de sua grande bolsa, ou sacola, um embrulho, destes de presente e o estende para mim. Fiquei tão sem graça mas feliz disse "querida..." O embrulho está em minhas mãos e...fecho as pálpebras.Ah, ela faz uma cara de reconhecimento.Fofa.
Seu braço cae em seguida, com grande vontade, ao longo do dorso, suas mãos ainda balançam.
Muda o peso do corpo de uma perna para outra.
Está num colant.
Ele passa a mão em meu cabelo.E alto que é, sorrio tanto que, naturalmente, fecho as pálpebras. SAbendo que eles sabem como estou, não sei, talvez saibam que estou bem,também, com eles. Contente. Nunca tinha escrito para teatro, levo uma vida até calma. No jornal onde trabalho chego a ficar horas sentado à janela...é...
Batatas das pernas à mostra, eles andam.
Estou de calças, como já disseram e com o presente dela nas mãos ando com passos firmes, todo bobo.
BAtatas das pernas à mostra, eles andam.
Chego à porta do meu apê, ouço um burburinho. É sim. Um burburinho. Aperto o senho entre as sobrancelhas e inclino a cabeça de lado; ocupo de pegar a chave da porta nos bolsos.Toco no meu pau que já está mais mole. Ao abri-la, quem estava na sala volta-se para mim e um AH, longo, percorre o meu apartamento, até a mim, pois meu blog PROG, o BRUCTUM foi citado num concurso de um dos provedores gratuitos, o OLÁ!
Meus textos, sérios, e não, e imagens coloridas e preto e branco, e granulações e texturas variadas honrados por uma empresa do porte da OLÁ e pelos eleitores, minha gente!
Acredito? Meu AH vai para eles até à janela.
Apertei as mãos. Vibro. Gritam.
Penso em Tonho e Tonia quando souberem. Devem estar fazendo perguntas na rua. Preocupo-me com eles, a partir de hoje à tarde. As pessoas que se mostram muito, principalmente suas precariedades, sei, são fortes. Mas há precariedades, não sei porquê, cismo.
Bem, aperto as mãos de meus próximos. Todos riem.
PROG é composto por matérias como "Quem Tem Medo dos Olhos Urgentes De Leilane Neubarth", sobre os lares quando destelevisionados. E outros como o forte, polêmico "Demoiselles d'Avignon, de Pablo e a Sacanagem no Moderno Brasil". Um texto uno, quase único mesmo, e incisivo, endereçado, explicitamente, às várias revistas especializadas no assunto.
Seria indelicado da minha parte só me referir com poucas palavras (e quais?) a outros textos. Todos têm espaço no blogspot. No silício. Era só clicar.
Cli-car, silabo, com sorriso. Riem, riem muito e eu levanto os braços, mãos apertadas, sacolejo elas. Sigo para meu quarto, mais o embrulho de presente. Páro um pouco à porta. Páro um pouco. Estranho.
A música começa, selvagem. Um grupo conversa, num canto, entre a cozinha e a sala, sobre a realização contemporânea. Dizem até que o que digito em PROG, o BRUCTUM é veraz e indiscutível. Uma mulher sozinha fuma e um homem sozinho fuma, encostados à parede. Um rapaz de sunga azul tira fotografias. O quarto está escuro e não fecho a porta.
Alguém, cubista, levanta o braço. Abaixa os braços. Pula com a música que reverbera pelo prédio e toda periferia sabe disso. Toda a periferia solta fogos.
Tonho e Tonia a examinar, calados, revistas na banca de jornal da avenida. Sei, imagino, porque desde que os conheço da matéria que fizemos para o jornal do bairro noto como se atraem por textos e escritos e também, conversamos um pouco, que deveríamos dar uma guinada no roteiro a partir de agora. Eles falam pouco. Eu não.
Dentro do meu próprio quarto e, olhos seguintes, vejo. Títeres revolucionários! Depois de desembrulhá-los do papel de presente, e o delicado e característico som provocado pelo papel eu ouvir, estão nas minhas mãos. Os títeres revolucionários...
Que descansaram nas minhas mãos calejadas. Ninguém da sala via porque pulam, compulsivamente, ao som altíssimo mas a porta está semi-aberta. Me senti reservado com eles, no escuro.
Lá, na estante, o papel de presente recém-desembrulhado ao lado de livros semi-imóveis, fabulares, lá coloquei, depois de tocar no feltro dos títeres revolucionários com muita, eterna emoção, um presente deles! Na estante! No escuro!
Sim, presente deles.
Na estante. No escuro. Vejam só: onde acharam aqueles títeres revolucionários de feltro? Poderiam ter mandado fazer ou Tonho ou Tonia seriam mesmo habilidosos e...de qualquer maneira agora sei: eles querem que os veja como títeres revolucionários...bonecos que se mexem num tempo... Ela estendeu os braços e me deu de presente, especialmente, em momento sublime mesmo,urbano sim ...ele me acariciou a cabeça...e tudo antes de sairem com as barrigas das pernas à mostra. Me espanto, quase que como se estivesse de posse de um segredo.
Simplicidade algo bruta daqueles bonecos de feltro que me tocou o peito.
Títeres instigadores que por força dos desvãos da História Artesanal repousam, como se não mais estivessem à vista pública, no meu quarto! E eles estão na rua com suas barrigas das pernas à mostra!
Baticum, baticum solto na sala.
Tirei o baseado colado a meus lábios e joguei no chão.
Penso neles. É. Sempre falam pouco. Mas incisivos como uma idéia na cabeça e uma cãmera na mão! E estão na rua agora...e aquelas suas expressões intensas e vagas ao início hein? O que me falam disso? Ham?
Dou um, dois passos. Três. Coloco uma venda nos olhos que estava na gaveta da mesinha de cabeceira que continua aberta, perto, um pouco embaixo, da janela do quarto de onde se avista uma das novas maravilhas do mundo iluminada. Uma venda nos olhos.
A noite está tão fria, chove lá fora.
Eles devem estar correndo da chuva, sim devem estar.
Então o som da chuva, não sei, me abala e
Saio para o meio da festa na sala ao lado do meu quarto escuro.
Gritam. Uivam.
Estico os braços, mexo os ombros, balanço as mãos. Requebro. Ouço gritinhos e gritões, palavrões surpreendentes. Mexo os ombros.
Tanta música oh quanto alegria. Agradeço a todos. Urro.
Então, mais tarde, ando para meu quarto. Passo um pouco meus dedos pelas lombadas dos livros, um pouco. Pouso os olhos na prateleira, sob luz indireta, e delicado sorriso me vem para seus feltros, até o último visitante que sai apagar a luz.
Dou tchau. Tchau. Tchau, repito em voz baixa. O abajur ligo com vagar.
O último visitante pareceu me olhar um pouco mais, enquanto ouvia, ainda, o trinco da porta soar.
Eu ia olhar mas com a roupa que estou no corpo me jogo na cama. Só retirei os sapatos mocassim.
O ensaio ia ser cedo. O despertador é redondo. Uma luz clara da lua.
O último visitante, reconheço a voz no vazio da rua, gritou alguma coisa lá embaixo. Ele deve estar a olhar para cima. Não sei ao certo o que escuto, se
Adormeço.

Nenhum comentário: