terça-feira, 17 de junho de 2008

sábado à noite, é madrugada de sexta-feira.



 

Sente-se seguro na redação de um jornal, mesmo que de um jornal de bairro.  Nâo é um meio em que se digite a descrição de cadeia montanhosa brasileira feita pelo Euclides da Cunha.Mas uma janela  acessa nas arredondezas da Lagoa conforta.
O editor lhe encomendara  matéria sobre perfomances que a filha de um amigo seu, historiador,  andava desenvolvendo nas ruas.
-Tem é que marcar com ela para ela aparecer  aqui!- e lhe deu  o  número do aparelho de .  Ainda disse que o amigo chamava-se Dilermando
-Dilermando, repetiu, quase para si..

A janela ..

Lá fora, longe, os quiosques, ou as kombis cervejeiras e as noites de sonho, ar condicionado.Ali tinha um ventilador, funcionando. E ele de pau duro,  e não era madrugada.

-Cara, disse calado, como é bom ser uma  sexta para sábado. E não um domingo... estou com tesão e não quero ir pra rua.

Amanhã, nem domingo telefonaria para, Tonho e Tônia... e os nomes, falou de um jeito quase mágico. Quase decidindo que era esse o nome da matéria.
Tonho e Tõnia... sussura ao ouvir rojões, fogos de artifício. E  ficou pensando.

sábado, 7 de junho de 2008

Num domingo de muito Faustão .

TInha uns filmes que sairam de cartaz mas ninguem nota.Num domingo de muito Faustão o sol lá fora convida para um olhar. O telefone toca. Tônia levanta-se para afundar a mão no bolso; pegar o celular. Na parede a imagem impressa, em papel A4; Tonho não tira retinas fixas das costas de Garbo em tecido comum, vigoroso, andando na rua; até que vira-se para TÔnia.

É um jornalista.



-Nós como assunto de crônica? Ah honrada. Mas gostamos de fotos ah gostamos de fotos( mexe os olhos, um tique)

O sol aumenta para depois diminuir em sua intensidade . Sem dúvida uma nuvem.

Passa a mão nos cabelos, já curtos, já oxigenados e "sim, sim " que ela retornaria com hora e local " em cima".

Vamos .Passam pelo corredor onde tem um espelho clássico e dourado. Os pais dela não os olha sair com muita displicência.



- Sair ?



Os passos de Tonho e Tõnia não são ocos, se atritam com os degraus.Descem, vestidos, a escada.Chegam lá embaixo.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Na lanchonete Tonho e Tônia se decidem

- Precisamos nos acostumar a ir mais para lanchonete, Tonho. São lanchonetes, padaria, bar juntos- Tônia pontifica.

Ela batuca na mesa.

-Tonho, vamos apresentamos Gestos e Palavras para o jornalista ou melhor fazermos nudez com grandes bundas e grandes peitos de plástico?- Tônia o vê levantar-se da cadeira plástica presa no chão com ferros. E Tonho vai ao banheiro. Lá, em voz baixa, declama Drummond enquanto se aborrece por ter pingos de mijo na cueca.

- Será mesmo que Palavras e Gestos repercutirá num jornal?
- Palavras e Gestos fica bem na rua, de noite.Mas para fotos nus é melhor !

Se se olhar os olhos dele, em pé, do ponto de vista dos olhos dela,sentada, se verá um rosto à sombra daquela lanchonete
...É. Uma crônica...- ela puxa a bolsa para si.

- O nú - Tonia reflete- tem a vantagem de ser muito conhecido... mas Gestos e Palavras é uma realidade corporal.

- Façamos um mix

O senhor ali passava; os teen-agers se encontravam com teen-agers e a senhora , crianças abandonadas e moça com um pouco de barriga demais para fora, pouco a pouco ouviram eles contar, pernas cruzadas, que...

... era uma vez dois amantes tão pirados de fazerem tanta sacanagem que um dia ao se reencontrarem cerimoniosamente se cumprimentaram. Um disse, saudade; o outro perguntou " como vai?". Tônia calava esperando Tonho começar.


-Era uma vez um vendedor que olhava os amantes no estoque daquela Lojas Bahia, sobre sofá da TOQ TOQ e aí o vendedor passava o dia a atender clientes. Depois chegava em casa, deixava as manchetes de jornal de cinquenta centavos de lado. Uma noite, não aguentando mais letrinhas, saiu. Encarou um cara no mictório de um bar e foram para a mesma mesa a comentar sobre a Taça dos Libertadores e passaram a noite no jogo, cada vez mais. Agora quando o vendedor via os amantes lá no depósito, sobre o sofá TOQ TOQ, achava que tinha um segredo.

As pessoas largaram a história pelo meio, quando já o crepúsculo chegava e o Fantástico ainda não começara. Tonho e Tõnia passeiam pela Voluntários da Pátria, rua que começa numa esquina e se alonga até à enseada de Botafogo, vista que é bloqueada por um abrupto prédio que espelha, em tom ray-ban, outros edifícios. E suas caras.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Gervásio, fotógrafo, e Dilermando acorrem para ajudar Tonho e Tônia num clarão no chão

Tenho que lhes contar sobre Tonho e Tônia outra noite. Já ouviram falar das muvucas dos Baixos da cidade ? Claro! Pois estava eu mais o Gervásio ( fotógrafo amigo que me acompanhava nas ruelas, avenidas e estradas na dolce Roma, naquele tempo) parados no Gávea, próximo do Cristo Redentor. Era tanta gente e tantas vozes meio às quais Tonho e Tônia chegam em trajes de baixo.

Tonho vem a pé, seu corpo magro em cueca que poderia ser uma pintura de Caravaggio; pelo meio fio muitos copos descartáveis.

Gervásio, com espocar de flashes, abre caminho a procurar enquadrar a cueca branca, as mãos grandes de Tonho que às vezes vêm à face, estendidos os braços... Tônia surge com sua simples calcinha e sutiã brancos bem lavados. Coloca as pontas dos dedos na cabeça; e Gervásio clica; e sua boca abre-se meio às mesas e aos que, de pé, sentem os flashs na cara a ela dizer em voz alta e calma "estapafúrdia". Os dois, lado a lado ( abrem e fecham as pálpebras)andam com cerimônia braços esticados para o alto, passando pela cabeça e vão ali do lado. E ela diz:"desengonço".Tonho faz ginástica na calçada.

Meu leitor, minha leitora, colegas em geral e amigos! ELES COMEÇARAM A CORRER

.Vejam de novo a foto tirada pelo Gervásio.

Eu e Gervásio nos encostamos num carro e ouvimos eles calarem meio à praça.

Carros correndo solto com sirenes. Um sobe na praça espantando namorados. Faróis impiedosos, abrem-se as portas e saem quatro caras. Os seguram pelos braços, tapam-lhes a boca e a desnudam chamando-a de feia e a Tonho de viado. Roçam seus paus até que num movimento inesperado Tonho e Tônia conseguem se livrar das mãos nas suas bocas e gritam, gritaram enquanto eram jogados no chão e gritam, gritam de um jeito que nem mesmo quem vive a gritar grita. O carro levantou poeira. E, num claro ficaram só que sem lágrimas até Dilermando correr, chamar táxi. Gervásio fotografava.Uma multidão se deslocara. Amanhã as fotos nos jornais mais baratos e nos mais caros também.

AS FOTOS DESTE BLOG NÂO SÂO FRANQUIAS. TÊM AURA

FOTO alaranjada NO PROG de Walter Benjamim.

ESTAMOS SEM SOM. O AR CONDICIONADO ESTÁ DESLIGADO. E MARCELLO ESPERIMENTA LUZ

Demoro a escrever. Esperem.
Tonho e Tõnia têm os braços não tatuados na boca de cena do palco, OLharam para cima, para a cabine.Para Marcello que toca em seus óculos. Marcello, o iluminador.
Queremos passar a abertura do mini-espetáculoe Zito , sonoplasta, é um cara que não chega. A abertura. E nenhum sinal dele no saguão do teatro.
E a tarde é comprida. E palavras ainda tardam. Atravesso o palco com o objeto de cena jornal na mão. Atravesso o espaço até o fundo onde me posiciono sem pressa.Meus pés andam, é verdade...parece dizer, às vezes, a cidade. A cidade à tarde.
Neyde , atrás da última fileira de poltronas, cabeça recostada nas mãos que seguram a vassoura presta atenção, de longe, no palco
Marcello acende spots. Liguem-se!
Tonho e Tônia firmam-se em seus pés ( posso imaginar as plantas dos seus pés que foram fotografados por Zito, acredita?). Zito demorou.
Recolhi os dedos. Olhos abertos ao Marcello acertar a luz.ÊI tenho vontade de gritar: ÊI ! Tonho , acesso pela luz amarela de Marcello, larga os braços ao longo do corpo e Tônia dá um grito agudo.Abre-se um esgar em meu rosto que estou com um jornal na mão,sinto meus dedos. Dedos que digitam.Tonho coloca as mãos em suas coxas; Tônia, mexe em seus cabelos curtos pintados. Marcello toca em seus óculos. Estamos sem som. O saguão do teatro está vazio.