segunda-feira, 2 de junho de 2008

Gervásio, fotógrafo, e Dilermando acorrem para ajudar Tonho e Tônia num clarão no chão

Tenho que lhes contar sobre Tonho e Tônia outra noite. Já ouviram falar das muvucas dos Baixos da cidade ? Claro! Pois estava eu mais o Gervásio ( fotógrafo amigo que me acompanhava nas ruelas, avenidas e estradas na dolce Roma, naquele tempo) parados no Gávea, próximo do Cristo Redentor. Era tanta gente e tantas vozes meio às quais Tonho e Tônia chegam em trajes de baixo.

Tonho vem a pé, seu corpo magro em cueca que poderia ser uma pintura de Caravaggio; pelo meio fio muitos copos descartáveis.

Gervásio, com espocar de flashes, abre caminho a procurar enquadrar a cueca branca, as mãos grandes de Tonho que às vezes vêm à face, estendidos os braços... Tônia surge com sua simples calcinha e sutiã brancos bem lavados. Coloca as pontas dos dedos na cabeça; e Gervásio clica; e sua boca abre-se meio às mesas e aos que, de pé, sentem os flashs na cara a ela dizer em voz alta e calma "estapafúrdia". Os dois, lado a lado ( abrem e fecham as pálpebras)andam com cerimônia braços esticados para o alto, passando pela cabeça e vão ali do lado. E ela diz:"desengonço".Tonho faz ginástica na calçada.

Meu leitor, minha leitora, colegas em geral e amigos! ELES COMEÇARAM A CORRER

.Vejam de novo a foto tirada pelo Gervásio.

Eu e Gervásio nos encostamos num carro e ouvimos eles calarem meio à praça.

Carros correndo solto com sirenes. Um sobe na praça espantando namorados. Faróis impiedosos, abrem-se as portas e saem quatro caras. Os seguram pelos braços, tapam-lhes a boca e a desnudam chamando-a de feia e a Tonho de viado. Roçam seus paus até que num movimento inesperado Tonho e Tônia conseguem se livrar das mãos nas suas bocas e gritam, gritaram enquanto eram jogados no chão e gritam, gritam de um jeito que nem mesmo quem vive a gritar grita. O carro levantou poeira. E, num claro ficaram só que sem lágrimas até Dilermando correr, chamar táxi. Gervásio fotografava.Uma multidão se deslocara. Amanhã as fotos nos jornais mais baratos e nos mais caros também.

AS FOTOS DESTE BLOG NÂO SÂO FRANQUIAS. TÊM AURA

FOTO alaranjada NO PROG de Walter Benjamim.

ESTAMOS SEM SOM. O AR CONDICIONADO ESTÁ DESLIGADO. E MARCELLO ESPERIMENTA LUZ

Demoro a escrever. Esperem.
Tonho e Tõnia têm os braços não tatuados na boca de cena do palco, OLharam para cima, para a cabine.Para Marcello que toca em seus óculos. Marcello, o iluminador.
Queremos passar a abertura do mini-espetáculoe Zito , sonoplasta, é um cara que não chega. A abertura. E nenhum sinal dele no saguão do teatro.
E a tarde é comprida. E palavras ainda tardam. Atravesso o palco com o objeto de cena jornal na mão. Atravesso o espaço até o fundo onde me posiciono sem pressa.Meus pés andam, é verdade...parece dizer, às vezes, a cidade. A cidade à tarde.
Neyde , atrás da última fileira de poltronas, cabeça recostada nas mãos que seguram a vassoura presta atenção, de longe, no palco
Marcello acende spots. Liguem-se!
Tonho e Tônia firmam-se em seus pés ( posso imaginar as plantas dos seus pés que foram fotografados por Zito, acredita?). Zito demorou.
Recolhi os dedos. Olhos abertos ao Marcello acertar a luz.ÊI tenho vontade de gritar: ÊI ! Tonho , acesso pela luz amarela de Marcello, larga os braços ao longo do corpo e Tônia dá um grito agudo.Abre-se um esgar em meu rosto que estou com um jornal na mão,sinto meus dedos. Dedos que digitam.Tonho coloca as mãos em suas coxas; Tônia, mexe em seus cabelos curtos pintados. Marcello toca em seus óculos. Estamos sem som. O saguão do teatro está vazio.